A inclusão da saúde mental na agenda da saúde pública internacional e o protagonismo da enfermagem no processo

A atenção primária de saúde enquanto fundamento essencial para atender às necessidades de saúde das populações do mundo vem sendo destacada na literatura de enfermagem e de saúde de um modo geral. Nesse contexto, é importante iluminar a saúde mental como parte integrante da atenção primária de saúde em sua perspectiva global.
Embora o conceito de saúde traga a ideia de saúde mental, uma vez que representa não só a ausência de doenças, mas também o bem-estar físico, psíquico e social, muitas vezes, a saúde mental é relegada a um foco menor das discussões sobre atenção à saúde. Porém, a situação mundial de incertezas com desafios globais, tais como violência, terrorismo, mudanças climáticas, deslocamentos de indivíduos e famílias, tem exigido a inclusão da saúde mental na agenda da saúde pública internacional.
Neste sentido, destaca-se como a saúde mental esteve presente em todos os temas discutidos no Congresso do International Council of Nurses (ICN) realizado na Espanha no ano de 2017.
No tema “Fortalecer os sistemas de saúde”, um grupo especial de trabalhos focados no cuidado para o coração e para a mente destacou o papel da saúde mental nesta temática. Outro tema foi “Sustentabilidade do cuidado em saúde, desastres e conflitos”, com apresentações direcionadas para as necessidades de saúde mental nesses contextos. Muitas vezes, este tema não aborda questões de saúde mental, pois o foco principal são as intervenções físicas para salvar vidas. Porém, os enfermeiros entendem as sequelas de longo prazo que acompanham essas circunstâncias.
Apresentações focadas no fortalecimento da preparação de especialistas em saúde mental e generalistas para atendimento de indivíduos de todas as idades, em diversos ambientes de atendimento, com todos os cuidados voltados para a qualidade e segurança do cuidado, também estavam presentes nos trabalhos apresentados. Na temática “Inovações na pratica profissional e nas políticas de saúde”, foram apresentados trabalhos sobre intervenções inovadoras, incluindo equidade em saúde para aqueles indivíduos frequentemente marginalizados por nossa sociedade, por exemplo, doentes mentais e usuários de substâncias ilícitas.
Embora os enfermeiros de saúde mental venham demonstrando evidências promissoras sobre intervenções, pesquisa e ensino, existe um
gap desafiador na área que é a existencia de poucos estudos sobre a translação da prática baseada em evidência na arena do cuidado em saúde mental e do tratamento psiquiátrico. Este gap vem sendo apontado em relação à inclusão da família e às inovações no cuidado da criança e do adolescente com
problemas de saúde mental (2). Os pesquisadores da área afirmam que esta falta de disseminação estagna o campo e dificulta o acesso de clientes e suas famílias a abordagens baseadas em evidências.
No mundo todo, os sistemas de saúde enfrentam desafios para melhorar a qualidade do cuidado, e buscam reduzir a defasagem existente entre o conhecimento produzido e a prática, e identificar os facilitadores neste processo. O aprendizado sobre como aplicar a evidência daquilo que já é, como identificar, priorizar e encontrar pesquisas relevantes para gerar novos conhecimentos é um desafio em muitas áreas da enfermagem.
Dado que os enfermeiros constituem a maioria da força de trabalho de muitos serviços de saúde, eles podem dar uma contribuição importante neste trabalho translacional e sua disseminação. Enfermeiros têm mais contato com os clientes e suas famílias do que qualquer outro profissional da equipe interdisciplinar. Esse contato providencia um ponto de vista único sobre a perspectiva daqueles que necessitam de ajuda perante o dilema que eles enfrentam.
Assim, enfermeiros estão em ótima posição para assumir a liderança em prática baseada em evidência porque os instrumentos para acompanhar a translação são acessíveis ao trabalho da enfermagem, o qual está na linha de frente do cuidado prestado pela equipe multidisciplinar. Os enfermeiros podem fazer a diferença, não apenas no atendimento direto ao paciente, mas também no desenvolvimento e implementação de políticas. A influência dos enfermeiros em saúde mental é promissora para o futuro do nosso trabalho de enfermagem em nossas sociedades globais.